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#ConhecendoOMestre - Biografia

Por Nathália Rezende

A figura mitológica do Mestre aleijadinho que tão bem conhecemos tem o início de sua construção com a biografia realizada por Rodrigo Ferreira Bretas em 1858, a partir de então, e principalmente posteriormente ao destaque dado ao mestre pelo grupo de modernistas que vieram para as Minas e identificaram em sua obra o “fazer genuinamente brasileiro”, muitos pesquisadores dedicaram-se a decifrar as muitas incógnitas deixadas no ar. Cientes da impossibilidade de encontrar coesão entre as tantas hipóteses apresentadas, seguiremos por um caminho mais simples, aquele de apresentar a vocês algumas das contribuições já realizadas, a se começar pelo primeiro biografo do mestre.

Segundo Bretas (1858),Antônio Francisco Lisboa nasceu no dia 29 de Agosto de 1730 na antiga Vila Rica, atual Ouro Preto, cidade localizada no estado de Minas Gerais. Filho de Manuel Francisco Lisboa com a escravizada, Isabel. Cabe aqui a ressalva colocada pelo promotor de justiça e professor de Direito do patrimônio Marcos Paulo Miranda (2014), que defende o dia 26 de junho de 1737 como a real data de nascimento do Mestre Aleijadinho.

Foi nas palavras de Bretas (1858) um homem “pardo escuro”, de estatura baixa, o “corpo cheio” e mal configurado e de face redonda. Seu cabelo era preto e anelado, o da barba cerrado e basto. Sabia ler e escrever, e talvez pudesse ter frequentado aulas de latim. Bretas (1858) aponta que seu conhecimento em desenho, arquitetura e escultura foi através da escola prática de seu pai e possivelmente com o desenhista pintor João Gomes Batista.

Um dos muitos pontos de discordância sobre Aleijadinho é sobre sua doença, inclusive o Museu de Congonhas dedicará um dia dessa semana para tratar apenas sobre o assunto. Das muitas dificuldades impostas pela moléstia, uma delas foi no próprio fazer artístico do mestre, para tal, contava com a ajuda de Maurício, sujeito escravizado, que adaptava as ferramentas as mãos já degeneradas de Aleijadinho. O próprio Maurício encarregava-se do entalhe e compunha junto a outros a oficina do escultor.Inclusive é nesta mesma época, quando já dado a avanço da doença, que Antônio Francisco Lisboa veio a ser alcunhado do depreciativo nome de “Aleijadinho”.

Com avanço da doença, Aleijadinho se afastava cada vez mais da interatividade social, trajando vestimentas que escondiam sua aparência. Apesar de todas as limitações oriundas da doença que o afligia, foi convidado a desempenhar sua arte em muitas localidades sendo reconhecido em Minas Gerais como artista de renome.

Na opinião de muitos críticos, sua maior obra foi deixada em Congonhas, composta por 64 peças em cedro que retratam a Paixão de Cristo, 12 profetas de pedra sabão, além da atribuição na realização dos oito bustos relicários dispostos nos altares da capela do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas.

A saúde de Antônio Francisco Lisboa já estava debilitada no momento que chega a Congonhas, visto que, segundo Bretas (1858),desde 1777 as moléstias atacaram fortemente seu corpo, contudo, isto não foi empecilho para que o artista e sua oficina realizassem as obras com tamanha maestria e qualidade.A arte concebida pelo mestre atingiu dimensões nacionais, inclusive sua alcunha foi utilizada para compreender o fazer artístico da época que vivera “o estilo Aleijadinho”.

Sylvio de Vasconcellos (1979), arquiteto de renome, traz importantes contribuições para um maior entendimento à respeito das características artísticas do Mestre Antônio Francisco. Para o autor é nas figuras humanas que notamos os manifestos de sua particular “caligrafia escultórica”. Afiguradas por anatomia perfeita, em que por vezes, intencionalmente apresentam-se deformada a fim de ajustar-se ao expressionismo barroco. O autor elucida que as inúmeras particularidades de suas obras as distinguem quase como assinatura. 

 

O mestre dedicou-se a sua arte até bem próximo ao fim de sua vida.  Em meados de 1812, veio o artista a perder quase inteiramente à vista, razão pela qual mudou-se definitivamente para casa de sua nora Joana, que dele cuidou até o falecimento em 18 de novembro de 1814.Antônio Francisco encontra-se sepultado na Matriz de Antônio Dias, em uma sepultura no altar da Senhora da Boa Morte. 

 

Mesmo tantos anos após os primeiros textos produzidos sobre o artista brasileiro, este foi e é ainda alvo de muitas especulações. Guiomar de Grammont (2008), com seu recente estudo sobre o Mestre possibilita-nos outra interpretação, menos calorosa, daquelas que já não mais precisa construir figuras que propiciem a coesão nacional. A autora traz para nós um homem e não mais o “herói barroco” que até hoje permeia não imaginário brasileiro. Destitui do homem Antônio Francisco Lisboa as muitas místicas empregadas a ele, de realização possível apenas para um sujeito inumano. Talvez a maior contribuição de Guiomar seja nos estimular a pensar quem foi Mestre Aleijadinho, um homem genial, e que por mais que seja um gênio isso não o afasta de quem é, um homem.

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